segunda-feira, 4 de abril de 2011

Atenção para "Cópía Fiel", mas cuidado com o excesso de credenciais e elogios

Permanece em cartaz “Cópia Fiel”, um filme que foi avaliado com 4 e 5 estrelas por alguns jornais de grande circulação. Com todo o respeito pela opinião dos colegas, alerto os leitores para determinadas características deste trabalho do iraniano Abbas Kiarostami estrelado por Juliette Binoche. Por meio dele, ela foi merecidamente premiada no Festival Cannes do ano passado, provavelmente por seu sobre-humano esforço para atribuir vida a uma figura irrevogavelmente literária. Mas o que foi ótimo para a atriz, não é para o espectador, que precisa suportar uma hora e quarenta e minutos desse palavrório sem o menor interesse para qualquer pessoa, além da dupla posicionada diante da câmara. Ou seja, um efeito bem diferente do que Ingmar Bergman brilhantemente obteve em 1973 com “Cenas de um Casamento”. Apesar de a ficha técnica enumerar nove personagens, eles são na verdade meros figurantes, porque o roteiro se resume a um único diálogo entre ela e o coadjuvante, interpretado pelo barítono inglês William Shimell. Ironicamente, o exímio roteirista Jean-Claude Carriére é um desses figurantes. O projeto parece uma espécie de confraria internacional de artistas reunida em torno de Kiarostami, talvez em função de sua importância política, que cresceu muito após a condenação de Jafar Panahi pelo regime do Irã. A quantidade de atores em cena não é, de fato, critério para dimensionar a qualidade de uma peça dramática. No entanto, o texto foi construído para um filme em que as divagações filosóficas se misturam penosamente com frases banais e confissões íntimas. Não há intensificação dramática e as falas se sucedem meio que trafegando em círculos, à espera da surpresa final. Esse diálogo é filmado num trajeto entre duas cidades na Toscana, mas poderia perfeitamente acontecer num único cômodo, que o significado permaneceria inalterado: uma tediosa discussão acerca da frase “uma boa cópia pode ser melhor que o original”. Como vemos, o principal tema desse bate-papo é a já superada questão estética da dicotomia cópia versus original que, aliás, já foi abordada muito mais profundamente em 1989, por Wim Wenders, na abertura de “A Identidade e Nós mesmos”. Juliete viaja quilômetros para mostrar a William a reprodução de uma pintura renascentista exposta num museu. Bastaria, porém, mostrar-lhe uma cópia Xerox dessa imitação. Ou seja, a gracinha final que remete ao universo de Eugene Ionesco e à comicidade de “A Cantora Careca” apenas amplifica a inutilidade do esforço cinematográfico de colocar o casal em movimento físico, provando que chegaria aos mesmos resultados, se os dois personagens ficassem sentados num banquinho, em frente a um fundo neutro. Mas nesse caso não haveria filme, e nem premiação no Festival de Cannes. CÓPIA FIEL Copie Conforme. Irã/ Itália/França - 2010 – 106 min. - 14 anos. estreia 18 03 2011. Gênero Drama. Distribuição Imovision. Direção Abbas Kiarostami. Com Juliette Binoche e William Shimell. COTAÇÃO. * * REGULAR

quinta-feira, 31 de março de 2011

S E R V I Ç O: quatro estréias, em que atores e personagens valem mais que os filmes

Finalmente estréia o esperado “As Mães de Chico Xavier” (foto acima), dirigido por Glauber Filho e Halder Gomes – os mesmo responsáveis por “Bezerra de Menezes”, o título que deu origem a este ciclo de filmes ligados à doutrina espírita e que se acha atualmente em voga. Apesar do elenco afiado e da narrativa que comove, ela não é tão bem narrada quanto o Chico Xavier, feito por Daniel Filho em 2010. Com as quatro estréias desta semana, mais uma vez o docudrama tem chance de ser a melhor opção. Falo de “A Última Estação” (foto abaixo), um filme sobre os últimos dias do escritor russo Leon Tolstoi. O elenco é primoroso. Paul Giamatti, Helen Mirren e Christopher Plummer, no papel do romancista que, apesar de sua doutrina de pobreza, acumulou uma imensa fortuna e 13 filhos, frutos de uma vida de hedonismo. Um desafio, portanto, para a competência do diretor Michael Hoffman, de quem já vimos uma bela versão de “Sonho de Uma Noite de Verão” (1999) de Shakespeare. Temos ainda “Fúria sobre Rodas”, uma aventura de terror com Nicolas Cage que, ultimamente tem se especializado numa linha trash, como é o caso deste filme dirigido por Patrick Lussier, da série “Pânico”. Desta vez ele enfrenta uma seita praticante de magia negra. O bom elenco de “Uma manhã gloriosa”, contando com Harrison Ford e Diane Keaton, parece não ser suficiente para garantir o interesse nessa comedia romântica dirigida pelo sul-africano Roger Michell e ambientada no universo do jornalismo da TV norte-americana.